Paganismo - A Complexidade dos Paradigmas Entre o Brasil e o Exterior

 "Fairies Of The Meadow Sunset Dance" por Nils Blommer

 Depois de, aproximadamente, dois anos sem publicar nada, preparei um texto especial, demorado e cuidadoso em todos os quesitos que possam abordar a complexidade que é o Paganismo. É um texto inspirado em experiências e leituras próprias que tive o prazer de dividir com um querido amigo.
 Esse vai ser mais um daqueles textos sem receita, somente funcionando, talvez, como um desabafo que compartilho com um querido amigo, Robert, que mora na Grã Bretanha. Aqui quero poder expressar algumas experiências, quero poder partilhar alguns pontos de vistas e quero poder falar abertamente sobre o (neo)Paganismo no Brasil (e uso a palavra com "P" maiúsculo por arredondar todas as crenças para um só conceito) sem nenhum filtro.
 PS.: Uma versão deste texto em inglês será postada em breve.

A "Grande Tenda" do Paganismo

  Foi o incrível artigo de John Beckett, "A Grande Tenda do Paganismo", (apresentado por minha querida amiga Mariana) que me ajudou a abrir os olhos e encarar que vivemos, dentro do Paganismo, sob uma enorme "Tenda". E essa "Tenda" possui diversos pilares e seus pilares são os segmentos que temos ao redor do mundo: Caminhos panteístas, caminhos dualistas, Wicca e outros caminhos de diversas manifestações da Bruxaria, reavivamentos e reconstrucionismos.
 Talvez o mais difícil dessa "Tenda" seja compreender que ela não funciona bem como uma religião e, sendo assim, não se pode dizer como praticá-la de um único modo em uma única via 100% eficaz.
 Entrando neste conceito que Beckett nos apresenta, eu procurei ir mais além: No Brasil, o Paganismo é uma "Tenda" que fica em baixo de outra: a"Tenda" do Esoterismo.
 Não que o Esoterismo funcione como o Paganismo funciona, e ele abrange diversos modelos de vida e práticas pessoais, mas dentro do nosso país o Esoterismo é só um modelo "espiritualista", uma ciência do espiritual/sobrenatural. O grande exemplo que dou é a tabela do Datafolha e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) de religiões no Brasil, que foi finalizada em 2010. Este analisou a década retrasada até o começo da década passada:


"Nos últimos 10 anos (2000-2010), manteve-se estável a proporção de cristãos. Isso indica tanto uma migração de católicos para as correntes evangélicas e para outras religiões. O segmento dos sem religião também cresceu percentualmente, e chegou a 8% da população em 2010."


"O IBGE registrou que 15 milhões de pessoas se declararam sem religião no Censo de 2010, o que representa 8% dos brasileiros. Em 2000 eram 12,5 milhões, o equivalente a 7,3% da população."

 Curioso analisar que para o IBGE, assim como Datafolha, analisam as religiões cristãs com todo cuidado possível, descrevendo a tradição cristã e a específica igreja que a pessoa frequenta. Enquanto nós, pagãos, ficamos muitas vezes num pequeno grupo de "Outras Religiões" que não são aprofundadas por nenhuma destas pesquisas e, na maioria das vezes, essas pesquisas não adicionam outra opção a não ser "Sem Religião". Ainda não há uma nova pesquisa do IBGE referente a 2010-2020.
"Religião dos Brasileiros
  • Católica: 50%
  • Evangélica: 31%
  • Não tem religião: 10%
  • Espírita: 3%
  • Umbanda, Candomblé ou outras religiões afro-brasileiras: 2%
  • Outra: 2%
  • Ateu: 1%
  • Judaica: 0,3%"
  • "Pesquisa Datafolha publicada  pelo jornal "Folha de S.Paulo" aponta que 50% dos brasileiros são católicos, 31%, evangélicos, e 10% não têm religião."
  Basicamente não temos religiões Pagãs, como a Wicca, reconhecidas em pesquisas como estas. Religiões como Umbanda, Candomblé e Kardecismo se encontram, muitas vezes, sob a "Grande Tenda" Esotérica que mencionei.

 Paganismo

 O Paganismo funciona como cultura e não só um estado de espírito, também funciona como modo de vida e principalmente como um conjunto de crenças (99,9% politeístas) e isso representa diversos modelos de ensinamentos e diversas verdades dentro do nosso caminho espiritual.
 Assim como o o Paganismo funciona como uma "Tenda", o Abraamismo abrange diversas religiões, entre elas o Cristianismo (e suas diversas vertentes), o Judaísmo e o Islamismo. A única diferença entre Paganismo e Abraamismo é que não temos um modelo arquetípico como eles tem, Abraão, responsável por dar linhagem ao conjunto destas crenças¹.
 Uma das mais importantes noções sobre Paganismo, como espiritualidade, é a mesma que os antigos tiveram em seus tempos: a não separação da vida e da crença religiosa, pois ambas eram vistas como uma única coisa.
  Não podemos mencionar religiões que conhecemos, do lado de cá, como sendo Pagãs (Xintoísmo, Budismo, Hinduísmo, etc.), pois é um conceito que acabou se tornando ocidental, um conceito que nós inventamos (não estou falando do significado do termo) e não cabe a mim e a você dizer se Budismo, por exemplo, é uma religião Pagã ou não.
 Mas o que define o Paganismo?
 Resumidamente, e voltando para o ABC Pagão, a palavra PAGÃO era um termo pejorativo para pessoas que viviam fora das grandes capitais... algo como "caipira" ou "do mato" que conhecemos hoje. Eram chamados assim os que não tinham acesso a "nova religião" do estado, o cristianismo, e assim eram considerados pessoas que seguiam velhas tradições e "estavam presas ao passado".
 Sendo assim, fica claro que qualquer pessoa que não era considerada cristã, ou batizada, era considerada pagã. E é claro que HOJE, com o termo Neo-Pagão, podemos absorver esse conceito de Paganismo fora das religiões Abraâmicas, já citadas, e caracterizá-lo como reavivamentos e reconstrucionismos de religiões e tradições pré-cristãs, como as mais atuais, a Wicca e o Neo-xamanismo².
 Ann Moura traz esse assunto de maneira muita lúcida e bem pesquisada no seu livro "As Origens da Bruxaria Moderna" onde ela trata da Bruxaria como tradição, quase religiosa, e filosofia que é praticada desde os tempos mais remotos da Europa pré-cristã quanto em práticas Xamãs³.
 Bom, não é difícil entender que todo conceito sobre o Paganismo, que conhecemos, é não fazer parte de nenhuma crença ou tradição Abraâmica, principalmente cristã! E é claro que muitos vão ver divergências quando se aprofundarem neste tipo de pesquisa. Não existe um líder que diga isso, não existe um grupo de sacerdotes que diga isso... É a HISTÓRIA que fortifica essa teoria, é a  ANTROPOLOGIA com todos seus artigos, textos, pesquisas e escavações sobre o tema que assegura isso.
 Há quem diga que o Neo-Paganismo se refere a religiões nascidas em meados de 1800 até 1950, mas é um tipo de assunto que levaria anos para se debater e chegar num consenso único, o que não é nossa intenção agora.
 E quando vemos o que a História diz sobre Paganismo ser um conjunto de práticas pré-cristãs, não-cristãs, podemos confirmá-las como NÃO-CRISTÃS MESMO! Tudo bem que anjos e demônios (falo sobre Pazuzu aqui) nasceram com as culturas pagãs, bem como o paraíso e o submundo, e é aí que o Judaísmo simplesmente absorve para sua crença esses conceitos, dando formas e nomes mais maniqueístas, ou seja, dividindo-os entre um "bem" e um "mal" absolutos.
 Daí já sabemos a história: O Cristianismo nasce, separando-se e absorvendo muita coisa do Judaísmo, "cria" sua própria mitologia e etc., tornando qualquer relação com o Inferno, Diabo, com os Anjos e Arcanjos... práticas "exclusivamente" judaico-cristãs.

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 Claro que muito provavelmente todos que lerem esse texto conhecem a Wicca e por isso não preciso me aprofundar em explicações sobre esta religião, mas sabemos que É UMA RELIGIÃO NEO-PAGÃ! Ela tem seus registros jurídicos em muitos países como sendo uma religião, não seita ou prática esotérica, mas uma RELIGIÃO que tem seus templos e praticas devidamente respeitadas e todos os seus direitos reservados. E deixo aqui claramente que a Wicca é uma religião que é de bruxaria, mas a bruxaria NÃO É SÓ a Wicca .
 Os gregos eram Pagãos (claro, não considerados assim na época, como disse, pois é um conceito nosso), mas tinham brux@s ou feiticeir@s (aí é assunto para outro texto), bem como nas religiões da antiga África e principalmente na Suméria.
 Tzvi Abusch, assiriologista de Harvard e Expert nos estudos Mesopotâmicos, deixa claro em suas obras que a imagem da Bruxa dentro das sociedades mesopotâmicas eram, antes de tudo, imagens xamanistas, onde a bruxa tinha o papel de cura e sabedoria medicinal. Mas logo depois ela perde espaço para os exorcistas-sacerdotes sumérios, que "demonizam" a bruxa como sendo responsável pelos demônios, desgraças e doenças em alguma pessoa, alguma casa ou alguma comunidade.
 Hoje existem pessoas que praticam bruxarias que os nórdicos praticavam, que os celtas praticavam e por aí vai. Conhecendo a Bruxaria Tradicional e a Bruxaria Natural (que é considerada por muitos como mais esotérica), podemos perceber que em basicamente TODAS elas o Paganismo e, claro, o politeísmo se manifesta.

 Reconstrucionismos e Reavivamentos

 Saindo do conceito das bruxarias, é necessário mencionar que dentro de práticas Pagãs existes o que chamamos de reconstrucionismo ou reavivamento, onde um determinado grupo volta sua prática e seus estudos para uma determinada cultura antiga e panteão, ambos, como religião, e "reconstroem" essas tradições nos dias de hoje.
 Asatru (Nórdico), Kemetismo (Egípcio), Helenismo (Greco), Natib Qadish (Cananeu), neo-Sumerian (Sumério) e Nova Roma (Romano) são alguns dos reconstrucionismos mais em destaque dentro da comunidade neo-Pagã.
 Na atual Grécia e em alguns países nórdicos, seus reconstrucionismos foram registrados como religiões e hoje podem praticar tendo seus direitos também reservados.
egypt20u
 Cerimônia kemética do "Sacred Kingman" no Brooklyn.
 
Cortesia do sacerdote Jabari Osaze para matéria sobre o tema do site Daily News New York.
 Quando se é Pagão nada mais importa a não ser a sua verdadeira prática, seja a ritualística, seja a prática de feitiço (se você praticar) ou seja apenas as suas devoções aos deuses que cultua... que é o próximo assunto.

Cultuando os Deuses

 Pode não parecer real, mas nós realmente adoramos aos deuses, com orações, cânticos, rituais, oferendas e outras coisas. Não é algo "cool" onde simplesmente dizemos que somos algo pra nos sentirmos diferentes do resto do mundo, para sermos o"underground" e burlar o sistema judaico-cristão. NÃO, eu falo de algo sério onde nossas práticas de culto são vividas o tempo todo.
 Nesse encontro com o Paganismo e com nosso interior, nosso self ou espírito, abdicamos de muitas coisas, desconstruímos muitos conceitos, desfazemos muitas amarras e quebramos muitos tabus. E esse é o maior dos desafios: se tornar uma nova pessoa.
 É compreensível ver uma pessoa que pratica religiões mais populares como a Wicca, que chama mais a atenção e leva mais pessoas a encontrarem outras práticas e tradições além desta, manterem alguns conceitos cristãos em suas vidas ou até mesmo conceitos umbandistas que tem muito do sincretismo cristão, bem como a necessidade de modificar o conceito do Cristo em suas "práticas neo-pagãs".
 O Cristo acaba recebendo diversos moldes por aqueles que não conseguem se desfazer das amarras do cristianismo, ele recebe comparações e sincretismos com Hórus ou Mitra, ou simplesmente é visto como "reencarnação" do Deus solar que se sacrifica pela humanidade ou é visto ainda como Mago e Mestre Avatar.
 Se você prestar bem atenção, vai perceber que a significância de Jesus e a fé cristã dentro do Paganismo não tem lógica e que obviamente os deuses pagãos não tem espaço no Abraamismo.
 É curioso perceber que o Cristianismo, por exemplo, é uma religião onde tudo é voltado para um único ser, Jesus, onde toda a atenção é voltada para um único pedaço dentro do Universo. Enquanto o Paganismo abrange os horizontes, para a Terra, para a humanidade e toda a Natureza, para a vida em equilíbrio com a morte. Enquanto que um me parece ser micro, o outro me parece ser macro!
 O tempo será responsável por nós, o tempo é responsável por todas as dúvidas e respostas. Quando o tempo nos mostra que estamos fazendo algo errado, que o caminho que traçamos, cheio de buracos, foi traçado de maneira errada, nós olhamos para dentro de nós e recuperamos tudo aquilo que aprendemos para trilhar o caminho a qual verdadeiramente pertencemos.
 Mas, enquanto isso, que nos sintamos á vontade para pesquisar, para ler, meditar, rezar, ir a eventos públicos, ir a rituais abertos, a ler mais este blog e tirar suas dúvidas. Que nos sintamos livres pra seguir em frente sem medo algum, mas entendamos que a até a liberdade tem suas regras, então precisamos saber muito bem que é um caminho difícil para muito, um caminho árduo que sofre preconceito e até ameças de morte, principalmente no Brasil, e que o que fazemos não é um ''hobbie'' para a burguesia se sentir menos preconceituosa e mais "estilosa", não é um moda para os bem-afortunados se sentirem mais próximos dos jovens ou distraírem suas mentes.
 O Paganismo é um caminho que conta com incontáveis trabalhos e noites mal dormidas, tudo isso para fazer dessa comunidade algo vivo e real, algo respeitável e com seus direitos. É uma verdadeira luta que precisa ser respeitada.

Robert Billingham e a vida Neopagã na Grã-Bretanha

 Robert é um querido amigo que tenho prazer de dividir este texto. Um incrível militante da causa neo-Pagã e LGBTQIA+ na Bretanha... Eu sei, você deve estar se perguntando o motivo de uma pessoa Inglesa estar escrevendo para um blog que foca no Politeísmo do Antigo Oriente Médio e Próximo, mas Robert tem um incrível modo de praticar sua fé e tem ótimas experiências que comprovam que a não há tanta diferença do Paganismo aqui do Brasil.
 Robert é membro da Pagan Federantion e uma das lideranças da Pagan Federantion LGBTQIA+, já escreveu algumas vezes para a incrível revista "Pagan Dawn" e ficou super entusiasmado em poder escrever um pouco para o Politerrâneo. Segue o texto dele que sofreu poucas a
lterações na hora da tradução:


Robert Billingham

 "Meu nome é Rob e moro em Halesowen, perto de Birmingham. Eu sou um Hedgewitch, uma prática de bruxaria que não é Wicca, algo como "Brux@ Herbal" na tradução em português. Tornei-me pagão aos 15 anos quando encontrei um livro na minha avó chamado "Natural Magic" de Paddy Slade. Quando descobri a Hedgewitchery (Bruxaria Herbal), foi uma revelação real, pois se encaixava em minhas crenças, meu amor pela natureza, pelo folclore e pela medicina alternativa. Minha avó batista, mas está interessada em tudo sobre os modos de vida no campo.

Artigo de Robert na revista "Pagan Dawn".

 Espiritualmente, minha educação parecia bastante normal, mas também anormal ao mesmo tempo, minha mãe é anglicana e eu frequentava a escola dominical todas as semanas, como a maioria das crianças na época, mas meu pai nunca costumava ir à igreja, ele nunca falava muito. sobre sua espiritualidade, era geralmente considerado por todos um ateu, foi antes dele morrer de um tumor no cérebro que ele me disse que minha irmã e eu não éramos @s únic@s brux@s da família. Olhando para trás, isso explicaria como meu pai cronometrava suas fogueiras. Havia tantas perguntas que eu tinha para ele que ficaram sem resposta quando sua doença tomou sua voz.
 Eu tinha 19 anos quando participei do meu primeiro grupo pagão em Birmingham. Essas reuniões informais são chamadas de assembleias, que é um termo arcaico que significa reunião. Eventualmente, a assembléia mudou-se para um local diferente e eu perdi contato com ela durante outros compromissos antes de outras assembleias, o (Rainbow Moot) para pagãos LGBTQIA, que foi criado por um amigo meu, Rob Yarlett. Foi criado porque ele via necessidade de discutir e incluir os pagãos LGBTQIA; o primeiro do país. Embora ele o tenha configurado, ele não queria executá-lo e depois que eu organizei o grupo em nossa primeira marcha (Orgulho de Birmingham), fui encorajado a concorrer à liderança. Eu tenho participado desde então, apesar de estar em hiato desde o início do ano passado devido a uma perda de local e a queda de números, o que é um problema em todo o país com muitas assembleias. Mas, ao dirigir o Rainbow Moot, estive envolvido com o Birmingham Pride em diversas ocasiões, inclusive fazendo bênçãos ao lado de outros grupos religiosos LGBTQIA.
 Foi através do meu trabalho inter-religioso LGBTQIA que me pediram para me candidatar ao cargo de capelão universitário na Universidade de Aston, pois havia trabalhado ao lado de um dos capelães da Igreja Livre que também era reverendo a Igreja da Comunidade Metropolitana local. Estou neste cargo há 11 anos e sou o capelão mais antigo que ainda está lá. Durante a maior parte desse tempo, senti uma síndrome de impostor, mas o fato de eu estar lá por um tempo diminuiu um pouco e agora estou no processo de estabelecer um sistema de apoio à capelania pagã nas universidades do Reino Unido, já que o número de universidades com capelães pagãos no Reino Unido está crescendo, com mais de um quarto delas tendo representação da fé pagã.

 Estar na capelania me proporcionou oportunidades além da própria universidade. Participei de reuniões com o prefeito metropolitano local, onde pude expressar questões que afetam a comunidade pagã local. Também me envolvi com um grupo de lobby ambiental inter-religioso local chamado "Footsteps", tendo participado de vários de seus eventos, incluindo palestras e realização de um passeio forrageiro. Também me levou a dar palestras nas escolas sobre ser pagão em algumas aulas de educação religiosa ou social em nome do 'Fórum de Fé e Crença' e da 'Universidade da Terceira Idade', onde as pessoas em idade de aposentadoria aprendem sobre diferentes culturas em o Reino Unido.
 Meu dia-a-dia como pagão não é nada charmoso, eu cuido da minha horta e sinto a natureza passar e muito parecido com meu pai tento e, pelo menos, ter uma fogueira em Beltane e uma fogueira em Samhain. Num dia de Maio de cada ano, minha família vai à vila de Clun, em Shropshire, para o Clun Green Man Festival (Festival do Homem Verde de Clun).



 Para a Birmingham Pride, farei uma peça de procissão, no ano passado foi um kraken, no ano anterior foi um dragão roxo gigante. Dirigi e participei de rituais abertos em diferentes festivais. Minha área local também fornece muita inspiração, pois tenho uma floresta antiga chamada Uffmoor Wood, que oferece um bom lugar para meditar e estar em harmonia com a natureza. E, embora possa parecer estranho para alguns, outro lugar que considero sagrado é a região da Igreja de St. Kenelm. Tem uma fonte que é sagrada para pagãos e cristãos, como pode ser visto em suas árvores, onde pessoas de ambas as religiões deixam ofertas na árvore de espinheiro das proximidades. Também existem outros dois lugares especiais: Clent Hill, que é onde eu vou assistir o nascer do sol no Solstício de Verãoe e Wychbury Hill, que é o local de um monte pré-histórico.

(O Homem Verde de Clun, 2017.)

 Nem tudo é sol e flores para a comunidade pagã do Reino Unido. Ainda nos deparamos com discriminação, temos insultos e discursos de ódio direcionados a nós e, apesar dos números cada vez maiores, somos amplamente ignorados como uma comunidade de fé. No entanto, temos direitos legais e estamos começando a obter mais reconhecimento, embora na imprensa nem sempre seja positivo e o uso dos estereótipos preguiçosos não seja incomum, dependendo da narrativa do meio de comunicação. Outra questão que está surgindo é o movimento que está sendo rotulado como paganismo plástico, onde as práticas parecem ser sobre aparência e posses, como qualquer outra coisa, deixa uma sensação de superficialidade, seja justa ou não. Além disso, o paganismo no Reino Unido não deixa de ter seus extremistas com a ascensão da TERF Wicca, que demoniza a comunidade de transgêneros e outros grupos cujo objetivo é baseado em Islamafobia, tentando recuperar o caminho das práticas ancestrais como validação de suas práticas. Felizmente, esses são casos raros, mas não são coisas que devam ser ignoradas ou tomadas de ânimo leve.
A antiga floresta de Uffmoor Wood (Por Toby Smith).
 E as práticas do agora? Com o lockdown (devido ao Covid-19), significa que muitos pagãos tiveram que começar a se conectar mais com suas áreas locais em vez de dirigir até Glastonbury ou seus círculos de pedras favorito a vários km de distância.
 Para mim, eu sempre tive essa conexão, então não mudou muito a esse respeito e pude participar de discussões que normalmente não teria chance de participar, pois agora estão on-line e até o Halesowen Moot tem mais participantes. O senso de comunidade está crescendo, mesmo que não possamos nos encontrar fisicamente, me levou a escrever mais artigos e jogar mais Dungeons and Dragons.
 No geral, as coisas para a comunidade pagã parecem boas para o futuro e esperamos que o paganismo seja devidamente reconhecido e a Inglaterra, o País de Gales e a Irlanda do Norte desfrutem do mesmo nível de direitos que a Escócia, onde os celebrantes pagãos são reconhecidos e seus casamentos são juridicamente vinculativos. Também desejo essas coisas para vocês e para a comunidade pagã do Brasil. Fiquem seguros, sejam felizes e se amem."
- Rob

Nota Final

 Eu realmente espero que você tenha gostado desses textos e possa fazer bom proveito, eu espero que tenha entendido que não é porque não temos um líder supremo ou uma única voz que dite regras, que devemos desrespeitar alguns conceitos do Paganismo que conhecemos. Mas saiba que se seu conjunto de práticas espiritualistas te fazem bem, te ajudam a te tornar uma pessoa melhor e você realmente se sente feliz... continue.

- Sávio Costa Adon

FONTES:
1_ "The Oxford Handbook of The Abrahamic Religions" - Adam J. Silverstein, Guy G. Stroumsa e Moshe Blidstein.
2_ "New Age and Neopagan Religions in America" - Sarah M. Pike
3_ "Origens of Modern Witchcraft" - Ann Moura
4_ "Au Commencement Étaient Les Dieux" / "No Começo Eram os Deuses" - Jean Bottéro
5_ "Witchaft Literature In Mesopotamia" - Tzvi A

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