Ugarit, a Grande Cidade Cananeia

(Ruínas escavadas em Ras Shamra, antiga Ugarit)
 Uma cidade grandiosa, plena e rica. Ugarit (atual Ras Shamra, em árabe: رأس شمرة, significando "topo/cabeça/capa do funcho selvagem") foi uma antiga e cosmopolita cidade portuária, situada na costa mediterrânea do norte da Síria, alguns quilômetros ao norte da cidade moderna de Latakia. Ugarit enviava tributo ao Egito e mantinha vínculos diplomáticos e comerciais com o antigo Chipre (chamado então de Alashiya), documentados nos arquivos recuperados do sítio arqueológico e corroborados pela cerâmica cipriota e micênica descoberta ali. O apogeu da cidade ocorreu de cerca de 1450 AEC até 1200 AEC. No segundo milênio AEC Ugarit estava em plena prosperidade. A influência da XII dinastia fazia-se sentir, e monumentos egípcios encontrados na região indicam que as relações com o vale do Nilo foram cordiais. 

 Na época da invasão dos hycsos, os hurritas se instalaram em Ugarit onde também se fazia sentir a influência da civilização do Mar Egeu. Quando o Mitanni se aliou ao Egito, para contrabalançar o crescente poderio hitita, Ugarit atingiu um dos mais belos períodos de sua História. 
 Um terremoto reduziu a antiga cidade a ruínas e, ao renascer das cinzas, caiu sob o controle dos hititas, tendo lutado ao lado destes na batalha de Kadesh.

(Tabuletos de Ugarit)

  Seguiu-se, depois, uma época da História de Ugarit em que se nota a influência miceniana e cipriota. A invasão dos povos do mar veio pôr fim ao papel preponderante desse velho porto cosmopolita do norte do litoral fenício. Com Ugarit, conhecemos, então, como em Biblos, um dos aspectos fundamentais da existência das cidades fenícias: a presença de feitorias e de verdadeiras colônias deixa pouco lugar ao elemento fenício, jogado ele mesmo de um a outro ao sabor das alianças momentâneas. A qualidade dessas alianças se difere devido à situação geográfica das cidades. Biblos, mais próxima do Egito, afastar-se-á menos da hegemonia egípcia; Ugarit, mais próxima de Chipre, dos hititas e dos hurritas, oferecer-lhes-á um lugar mais amplo em sua vida politica.
 O último rei de Ugarit na Idade do Bronze, Ammurapi, foi um contemporâneo do rei hitita Suppiluliuma II. As datas exatas de seu reino não são conhecidas.
 Ugarit foi destruída no final da Idade de Bronze. Os níveis da destruição continham artefatos heládicos IIIB tardios, mas nenhum IIIC (ver período micênico). A data da destruição, portanto, é importante para a datação da fase IIIC. Como uma espada egípcia com o nome do faraó Merenptah foi descoberta nos níveis da destruição, 1190 AEC foi assumida como a data para o início do período III. Uma tabuleta cuneiforme descoberta em 1986 DEC mostra que Ugarit foi destruída após a morte de Merneptah, isto é, antes de 1190 AEC, provavelmente em 1195 AEC. Há um consenso de que Ugarit já havia sido destruída no oitavo ano do reinado de Ramsés III.
  Ainda se debate se Ugarit foi destruída antes ou depois de Hattusa, a capital hitita. À destruição seguiu-se uma pausa na colonização da região. Muitas outras culturas mediterrâneas estava em profunda desordem na mesma época, aparentemente devido às invasões dos misteriosos "Povos do Mar".
  Além da correspondência real para os monarcas vizinhos, a literatura ugarítica dos tabuletos encontrados nas bibliotecas locais incluem textos mitológicos escritos numa poesia narrativa, cartas, documentos legais tais como compra e venda de terras, alguns tratados internacionais, e uma grande quantidade de listas administrativas.
  Fragmentos de diversas obras poéticas foram identificadas: a "Lenda de Kirtu", a "Lenda de Danel", os contos de Ba'al que detalham os conflitos de Ba'al-Hadad com Yam e Mot, além de outros fragmentos. 
 A religião ugarítica estava centrada no deus-chefe, Ilu, o "pai da humanidade", "criador da criação". A corte de Ilu era chamada de 'lhm, Iluma ou Elohim, (deuses). Os mais importantes entre os principais deuses eram Haddi, o rei dos Céus, Athirat ou Asherah (familiar aos leitores da Bíblia), Yammu (ou "Mar", o deus do caos primordial, das tempestades e da destruição em massa) e Motu ("morte"). Outros deuses venerados em Ugarit eram Dangnu ("grão"), Tirosh, Horon, Reshef ("cura"), o artesão Kothar-wa-Khasis ("hábil e esperto"), Shahar ("amanhecer") e Shalim ("anoitecer"). Os textos ugaríticos forneceram aos acadêmicos uma riqueza de informações sobre a religião dos canaanitas, e suas ligações com a religião dos antigos israelitas.
(Deus Ilu brindando em uma celebração, na sua mão um cálice com vinho. Ugarit, Síria 1400 AEC)
-Adon Ittibel
                  

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